Inferno Astral

Eu realmente sou uma pessoa com um estilo de vida bem diferenciado. O meu nível de procrastinação é tão grande que eu não consigo nem curtir o meu inferno astral direto. Faço aniversário daqui a três dias e só hoje fui perceber que estou prestes a ficar mais tempo mexendo na listinha pra encontrar o ano que nasci naquela parte de fazer cadastro no site. Enfim, enrolei tanto pra me tocar disso que aconteceu tanta coisa hoje no meu inferno astral repentino que eu tô tendo que misturar assuntos numa história só agora.
Mas vamos lá: eu queria falar do meu tão querido Pantera Negra, ia ser uma história linda. A foto inclusive é só alegria. Mas como entrei nesse período conturbado aí eu tô escrevendo num estilo novo em que trago a felicidade constate do Instagram na foto e a realidade da vida que encontramos no Twitter. Então saibam que não estou sendo esquizofrênico, apenas lançando um novo estilo de narrativa.
Pois bem, eu tava com esse sorriso cheio de dentes aí da foto pra poder pegar a bateria do opalão que tava carregando no eletricista pra já iniciar o sextou acordando a vizinhança com o ronco do motor. Tinha comprado pneus novos pro meu outro carro e aí já levei pra trocar num borracheiro que fica ao lado do eletricista. Cheguei lá mais posudo que pavão pra sair de pneu novo e bateria carregada. Mas eu tinha esquecido do tal inferno astral. Certeza que minha lua entrou Júpiter e se aí alinhou com Vênus em espiral. Expliquei o que tinha que ser feito pro borracheiro, deixei tudo lá com ele e fui buscar a bateria no vizinho. Aí chego sorridente dando "boa tarde" pra geral e o camarada já responde "tá zerado, hein!". Obviamente que não entendi e perguntei sobre a bateria. Aí ele me diz "tá zerada". Pô, então passa pra cá porque agora é só sucesso, eu disse. Mas aí que começou a espiral de Vênus... Quando ele disse que tava zerada ele estava se referindo a carga da bateria, estava zerada! Já não tinha mais o que fazer com ela e eu teria que comprar outra. Nesse momento eu senti minha boca tremendo de nervoso, vi todo meu planejamento do fds sumindo no ar quando perguntei o preço da bateria da nova. Lembrei que tinha acabado de comprar os pneus e que a grana do fds era até menos que a da bateria. Cara, não precisava disso... Deixei o cara lá falando sozinho e disse que ia pensar sobre essa novidade enquanto os pneus eram trocados. Chego no borracheiro e o cara ainda está no segundo pneu, cheio de assunto com um cara que tava lá. Sei que ele é bom de serviço, aí pensei que tava com preguiça de trabalhar só. Porque pelo tempo já era pra ter terminado. Mas era a espiral... Ele me chama pra mostrar que tá acontecendo alguma coisa estranha, que ele nunca tinha visto antes. O pneu não entrava na roda de jeito nenhum, tinha vaselina pra tudo quando é lado e ele parecia que tava montando um cubo mágico de tanto que girava o pneu pra tentar encaixar. Até então eu só tinha cabeça pra pensar na bateria, esse outro problema não era meu. Liguei pra concorrência só que o preço era aquele mesmo. Voltei lá e comprei logo a bateria pra parar de sofrer sem nem ter resolvido o negócio. Ao chegar no carro eu vejo que o cara ainda tá lá alisando o pneu. Já tinha lavado até a roda. E foi nesse exato momento que eu percebi que tinha alguma coisa errada, porque não se lava a roda pra trocar um pneu! Cheguei perto do cara e ele disse que tava com dificuldade real. Fiquei lá dando apoio moral enquanto ele resolveu que teria que encher o pneu até o talo pra poder acomodá-lo na roda. Achei que tava exagerando quando disse que a calibragem que supostamente seria necessária não tava dando certo e que iria precisar de mais, até o momento em que vi ele calibrando a máquina dele pra dar mais pressão e vi no equipamento dele que o pneu já tinha 100 (CEM) libras. Quando percebi que o pneu não parava de encher e o ponto do pneu entrar não chegava nunca. Nesse momento, como estava do lado do pneu, eu comecei a deixar apenas partes do meu corpo que eu julgo ser menos importantes em caso de ter que escolher o que eu poderia deixar pra traz numa situação de risco. Que nem as lagartixas fazem, sabe? Parei de olhar frontalmente e tava sempre meio que apontado pra alguma coisa que tava do outro lado da rua, enquanto ele ia aumentando a pressão e dizendo que nunca tinha feito aquilo. Eu estava já com as pernas bambas. Chegamos a CENTO E VINTE LIBRAS (120lbs) e ele conseguiu, enfim, para honra e glória do nosso senhor Jesus Cristo, colocar o pneu. Disse que tava morrendo de medo daquela porra explodir e que realmente nunca tinha visto aquilo. Ok! Muito obrigado por essa emoção, foi só o que eu pude dizer. 
Peguei minhas coisas e fui embora uma hora e meia depois, já com fome no corpo e vontade de dar um rolê de Opala pra ficar de boa e esquecer o que tinha passado. Tinha chegado a hora de valorizar a segunda chance que eu tinha recebido pra viver a vida na plenitude máxima. 
Chego ao lar, meu doce lar, coloco minha roupa de conforto e vou lá colocar a bateria pra sair rasgando tudo. Mas aí o universo em conspiração negativa me induz ao erro e eu monto a bateria com os pólos invertidos. Eu montei a bateria com os pólos invertidos, invertidos! Achei levemente estranho que o pólo não tava entrando direito, dei umas porradinhas lá e "coube". Mas se eu tivesse escutado os conselhos de babãe quando dizia que nem tudo é na força, mas sim no jeito, eu, talvez, tivesse me livrado do que estava prestes a acontecer: quando conectei o segundo pólo, esse muito mais de boa pro encaixe que o primeiro, a minha reação foi "Ah pelo menos não vou precisar ficar batendo aqui também", só que aí começou a soltar muita faísca aí eu pensei "mano, tá diferente. Acho que tá dando merda. Vou tirar sáporra daqui". Nesse momento o bagulho ficou doido e criou vida própria, ouvi um barulho do outro lado do motor e fiquei congelado e sem respirar pra poder ver se tava fazendo barulho mesmo. Aí foi meu erro. Ao prender a respiração eu não percebi que o barulho era alguma coisa derretendo e aí quando voltei a respirar tava tipo pré Apocalipse. Novamente eu voltei a congelar por alguns segundos, mas dessa vez era de desespero mesmo porque eu não sabia se eu sabia manusear um extintor de incêndio e onde teria um pra eu controlar o fogo e as chamas do inferno astral que iriam aparecer em instantes. Começa a sair uma fumaça com um cheiro escroto mostrando que TAVA ACONTECENDO UMA TRAGÉDIA aí eu consegui tirar o pólo e congelei mais uma vez. Agora eu tava só fugindo de morto pra ver se o caos passava porque eu definitivamente não tinha base emocional e estrutural pra resolver aquilo. E aí vem a parte mais bizarra do dia: depois desse último congelamento, quando eu voltei pra mim e vi que aparentemente estava tudo sob controle eu simplesmente saí correndo pra dentro de casa. Oi? Não sei o que aconteceu, mas eu cheguei no quarto e fiquei falando sozinho "o que eu acabei de fazer?". Parecia que eu tinha visto um fantasma. Sei lá, o corpo deve ter pensado que era um sonho e voltou pro quarto pra eu acordar em segurança, vai saber...
Mandei msg pro meu tio, contei a história e ele disse "então fudeu, mas o carro vai funcionar". Agora eu tenho um outro problema pra resolver e mais uma grana pra gastar. Mas tô achando que vou enfrentar esse problema só depois do aniversário porque serei outra pessoa, com muito mais maturidade caso aconteça alguma coisa. Pra finalizar eu dei uma olhada no carro do pneu e vi que a lataria tá toda suja de vaselina, que ficou sendo expulsa do pneu enquanto o carro andava, tá lindo de se ver.
Resultado: deixei pra viver o inferno astral de uma vez só e parece que potencializei os efeitos da espiral de Vênus. Pneus quase explodem perto de mim, gasto uma fortuna inesperada e ainda fico que nem o faustinho gritando "tá pegando fogo! Tá pegando fogo!" 
Contei isso tudo pra dizer uma coisa: curta seu inferno astral moderadamente e beba bastante água porque a seca está chegando. 
*A parte da água foi só um bônus pra quem chegou até o final.

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