Sofrendo por amor

Na continuação do meu jeito acumulador de ser agora eu estou com dois carros antigos. Porque quem tem um só é Nutella. Quem tem um da década atual e um antigo também tá com nada. O bom mesmo é ter dois carros antigos, pra quando um não estiver fazendo o reparo já ter a certeza de que o outro estará! Ficar todas as semanas na busca da peça perfeita, trocar a ida ao shopping por um ferro velho...
Tava tudo bem, mas não tem graça ficar de boa. Me desfiz do carro que ainda pagava IPVA e agora tô pronto pra participar dos programas da Discovery Turbo, aqueles que os caras ficam entrando nos galpões abandonados pra achar um carro bem lascado, recuperá-lo e vender pra fazer uma grana. Mas como não sou do programa então recupero, me apego e nem penso em vender. Aí fico só na parte de gastar todo o dinheiro mesmo. Só que dessa vez fui movido pela emoção. A jóia do momento é o carro que comprei junto com minha mãe um tempo antes dela partir. Peguei quase todo meu dinheiro que recebia no estágio e coloquei ela no barquinho da aventura junto comigo. Resolvi tudo e deixei pra ela a parte da papelada. Nem viu o carro antes da negociação. Ainda bem! Porque quando fomos dar uma volta depois de tudo já resolvido, assim que entrou no carro a primeira frase dela foi "nossa... mas que evolução, hein! Seu carro tem toca fitas!" Eu tinha achando vintage, mas ela achou um retrocesso, já que estávamos em 2008.
Beleza. O tempo passou e desde o primeiro dia desse blog (cheguei aqui quando tudo era mato) eu me distanciei do carro. Ele permaneceu na família, mas não comigo. Bichinho levou uma canseira e pediu arrego, ficou sete anos encostado na garagem. O único direcionamento que recebia era "tadinho...". Mas aí quem é que surge com a brilhante idéia de uma restauração pra brindar os 20 anos de vida dele?!?!? Pois é... 
Pior que não posso nem falar que foi o momento em que o filho chora e a mãe não vê porque ela tá vendo tudo. Viu quando eu comecei a bolar meu planinho e iniciar os preparativos pra algo que seria de boa, pelo menos era o que eu esperava. Quando estava sozinho em casa eu entrava nele pra ver se a ainda rolava uma conexão. Nesse momento eu já estava meio doido, porque entrar num carro parado há SETE anos e ficar lá dentro com tudo fechado em busca de uma conexão não pode ser uma idéia de uma pessoa sensata. A única coisa que conectou foi um monte de espirro e manifestações da rinite. Hoje acredito que isso era um sinal de Celhoca pra eu deixar tudo como estava. Mas não, fui escutar a galera do coach e não desisti do meu sonho. Fiz a avaliação leve dos custos na base de contas de padaria. Sem chutar que algo poderia dar errado. Se eu estivesse escutado as dicas do coach de fracassos hoje eu estaria entre as pessoas com mais capital e saúde acumulados no Brasil. O processo ainda não terminou, já entrei no sétimo mês de restauração, troquei mais peças nesse carro do que o taokey troca seus ministros. Na verdade tudo está sendo trocado, uma vez que  em todo lugar que chego e falo que quero resolver tal problema o ser humano vira pra mim e fala "xiiiii mas não tem como fazer só isso, não... Vai ter que pegar lá da ponta e vir mexendo em tudo. Olha lá, tá vendo que tá daquele jeito, pois é, tinha que tá assim oh". 
Eu poderia ter abandonado essa brilhante idéia e seguido a vida. Porém nesse momento era só oq tinha, já que o carro em perfeitas condições de uso já havia sido até passado pra frente. E não dá pra ficar andando de Opala todo dia, né? E lá fui eu virar comprador com excelente pontuação no mercado livre, eBay e loja de desmanche de veículos (a moça já me dá Coca cola pra beber junto com os funcionários na hora do lanche de tanto que vou lá). É uma merda! Mas todo mundo que mexe nele diz que quer ver quando ficar pronto. Que é um projeto muito massa... Bom, a verdade é que não sei se esse dia vai chegar, porque quem restaura carro tá sempre achando alguma coisa pra fazer. Também não sei nem quando ele vai voltar pra mim, já que estou há uma semana escutando o tapeceiro dizendo que vai entregar amanhã. Pelo menos recebo umas fotinhas do carro pra acalentar meu coração. E o pior é que funciona porque vejo que tá ficando do jeito que eu quero. Vejo as fotos e já bate uma nostalgia. Gastei uma grana? Gastei! Mas as lembranças que me fazem ir pra um outro lugar só de ver esse carrinho ficando pronto faz esquecer de tudo. Na verdade eu esqueço porque sei que já era mesmo. A grana nem os cabelos irão voltar.
Enfim, aprendi com o Opala que é um sentimento que não tem como explicar. Porque é uma conta que não bate se for pensar racionalmente. Mas vou deixar pra ser racional na hora de comprar a cerveja que vou abrir pra comemorar essa façanha e gritar lá dentro do carro que Celhoca vive!!!!

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