Velocidade máxima

Mais um ano vira e as emoções continuam as mesmas. Depois de ter esquecido de comprar a passagem das férias eu consegui passar sufoco pra chegar no aeroporto em tempo de pegar o transporte com destino ao carnaval.
O embarque começava às 15h15. Marquei um almoço que teve início às 12h e por lá fiquei conversando como se estivesse com a vida ganha. Mas ela não estava. Tanto que inventei de ir pra rodoviária pegar um ônibus pro aeroporto. Matar saudade de andar no coletivo e sentir aquele calor humano. O problema é que eu não sabia qual era a linha, onde pegava e nem o horário que ele passava. Resultado: saí pra pegar um ônibus como se estivesse indo esperar um Uber. Tipo aquela galera que espera do lado oposto ao que o Uber tá chegando e nem sabe identificar o modelo do carro, esse era eu na rodoviária. 
Fiz algumas perguntas e descobri de onde o ônibus iria sair. Lembrava de sempre ter visto um ônibus bonitão na rua que fazia a linha do aeroporto e, obviamente, fiquei todo posudo esperando o ônibus mais bonito da cidade chegar pra eu chegar bem pleno no aeroporto.  No relógio apontava 14h30, tudo relativamente tranquilo. Em uma hora dá pra fazer muitos planos, caso algo dê errado. Foi aí que a emoção começou. O ônibus não chegava, a hora passando e eu sem saber se esperava ou chamava ou Uber pra agilizar o processo. Durante esse pensamento chegou um pau de arara comum (só pra lembrar que a frota de Brasília é a 7ª pior do mundo) e nele estava escrito “aeroporto”.  Não pensei duas vezes e entrei naquela carniça que quando passa por uma irregularidade na pista a coluna chega fica torta. Bateu uma tristeza por não poder ir no outro ônibus, mas naquele momento já não tinha muita escolha. 14h43 e já estávamos na boca da pista que nos levaria ao destino final. Mas aí, o motorista não entra na pista e começa a fazer um caminho sentido contrário ao do aeroporto. Nesse momento minha barriguinha começou a ficar gelada, escorreu uma gota de suor na minha testa e aí  só deu tempo de dizer “fudeu!”. Fui lá no cobrador perguntar o que tava acontecendo. Enquanto ele explicava o percurso aí o motorista se meteu na conversa e disse que aquele era o caminho do aeroporto. Falei com ele que o caminho do aeroporto mesmo era pro outro sentido. Aí ele disse que aquele era o caminho do aeroporto que ele fazia. Nessa hora eu perguntei “quem é você, jovem? Esse ônibus é seu pra você ficar inventando caminho?!?!?” Mas aí ele continuou a fala e disse que era o caminho da linha mesmo, que têm outras linhas pra lá e inclusive tem um que só vai pra lá (o meu bonitão). Aí disse pra mim que eu podia descer perto do aeroporto e pedir um Uber de lá que ficaria mais fácil. Porque eu tava falando que seria melhor deve em qualquer lugar e pedir um Uber já ir direto. O ônibus já estava comovido com minha situação. Um cara me cutucou e disse que perto de onde ele ia descer tinha um ponto de táxi e que eu podia descer com ele e partir de lá. Agradeci, mas não achei uma opção para o momento. 14h51 e ainda nem tava perto, falei pro piloto que meu embarque era às 15h15 e aí rolou uma comissão entre o motorista, cobrador e eu pra saber qual era a melhor decisão a se tomar. O motorista fez umas contas rápidas e disse que chegaríamos no aeroporto umas 15h10. Nesse momento o ônibus já era meu. Essa conversa mesmo nós tivemos chegando na última parada antes do aeroporto. O ônibus parou, teve gente que desceu e o motorista ficava falando “é agora! Tem coragem?”. Eu já tava tão envolvido com meus amigos que escolhi ficar pra viver até o final aquele momento. Eu já tava rindo de nervoso. Sem saber o que aconteceria. Lembrando dos vôos que eu já perdera e toda a dinheirama que esses minutos poderiam me custar. Agora eu estava agarrado na roleta, o motorista dirigindo que nem “velocidade máxima” e me dando dicas de onde pegar as melhores linhas pro aeroporto. O cobrador só ria enquanto comia um pão de queijo. O percurso desse ônibus é tão triste que ele passa na entrada da entrada do aeroporto, vai pra base aérea que fica atrás do aeroporto e só então volta pro aeroporto. Momentos antes eu tinha falado pra ele me largar em qualquer lugar perto do aeroporto que eu tentaria um Uber de lá. Ele disse que não podia parar fora das paradas, eu respeitei. De repente eu vejo que estamos indo na direção do aeroporto e aí o piloto vira a e fala “seguinte, mermão... eu vou fazer uma coisa aqui pra tu que eu não costumo fazer. Vou quebrar teu galho e parar fora da parada. Mas se liga, vou quebrar regras pra te ajudar porque tô vendo que tá ferrado. Vou começar a andar bem devagar e aí vou parar. Nessa hora você desce o mais rápido que puder e nem acena.” Mano... o cara inventou uma mágica pra caso alguém tivesse olhando. Achei aquilo sensacional! Catei a minha mochila, que agora estava rolando de um lado pro outro dentro do ônibus e nem tinha me dado conta, e fiquei com a cara pregada na porta do ônibus. Fiquei agradecendo e me despedindo dos meus amigos enquanto todos me observavam atentos e torciam pra eu chegar na hora. Eu realmente me senti no “velocidade máxima” porque o ônibus nem parou por completo e eu já estava lá caminhando na calçada como se já estivesse perambulando por ali há muito tempo. O ônibus seguiu e fingi que nada tinha acontecido.15h04, depois que ônibus termina de passar por mim eu vejo a entrada do aeroporto me chamando. Atravesso a rua e sigo lindamente para os braços do embarque. Cheguei tão cedo que consegui trocar meu assento e ainda deu tempo de ser roubado na quitanda com uma garrafa d’água que custou R$9,90 e a bonita ainda achando que eu não ia querer os dez centavos de troco. 
Tive sorte e fiquei sozinho na fileira. Comi o biscoitinho do pessoal que não veio e fiquei pensando se eles não vieram porque pegaram o ônibus errado também.
Mas agora é bola pra frente. Tá na hora de montar as fantasias porque o carnaval já tá chegando.

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