Racionais Mc's

Os caras fizeram parte da minha criação, juntamente com papai e mamãe. Tive a honra de dizer isso diretamente para o KL Jay quando o encontrei num evento dele em São Paulo. Dona Célia não curtia muito e eu tinha que escutar os meus CDs com o Headphone do meu pai. Depois de tantos discos escutados e tantos anos de vida, se pudesse, perguntaria pra ela o motivo da repressão. Porque foi tanta coisa que rolou e ainda rola que eu me pego direto tentando decifrar para o que realmente era aquele "não gosto dessas músicas aí que falam de tragédia e usam palavrão...". O fato é que escutar com o Headphone parece que me deixou mais perto das letras, que eu acompanhava no encarte do CD e sussurrava baixinho tentando acompanhar tudo sentado na cadeira porque o fio limitava os meus movimentos de break no chão. Me deixava "limitado" àquele mundo, no qual eu ia pra outra dimensão e conseguia visualizar o que estava sendo cantando ali no pé do ouvido. Lembro que em uma semana eu já decorava todas aquelas músicas de oito minutos cada, já buscava as músicas dos parceiros, tentava entender o significado de várias coisas que não faziam parte da minha realidade e apreendida sobre uma pá de coisas que iriam me acompanhar pelo resto da vida e eu nem tinha noção. Como as estatísticas citadas no início de "capítulo 4, versículo 3". Anos se passaram e nada mudou. Sem perceber eu já cantava "contrariando as estatísticas" e hoje eu percebo que a palavra tem poder, irmãos! Estoy aqui há 34 anos "contrariando as estatísticas", "sobrevivendo no inferno"! Já fiz amizades por causa de racionais, já chorei abraçando desconhecido ao som de racionais, já expliquei sobre racismo citando racionais, já mostrei que meritocracia é uma falácia com trechos de racionais, que são nada mais do que o retrato da sociedade. Na época de escola queria ter um "Kadett vermelho com placa de Salvador" e ficava me perguntando "em qual mentira iria acreditar". Na minha graduação (Publicidade e Propaganda) os grupos simulavam agências e apresentavam suas peças publicitárias, o nome do meu grupo foi "Voz Ativa" por um semestre inteiro. No caminho de ida e volta do cursinho pra concurso a trilha sonora era "Nada como um dia após o outro". Lembro como se fosse ontem que fiquei deitado no chão da varanda de casa com o computador ligado na tela da minha nomeação enquanto tomava uísque e escutava no repeat "Vida Loka parte 2", olho todo marejado de alegria e orgulho, mil fitas passando pela cabeça... "Nego Drama" pipocando e prestes a botar pra fuder todas as "cores e valores". Chegar na loja de tênis da gringa "e poder comprar o azul, o vermelho".
Cresci ouvindo um grupo de rap que hoje é até matéria para vestibular, que me diz que a "vida é desafio". Queria que fosse diferente, que minha banda favorita cantasse coisas aleatórias ou leves, que só me fizesse sorrir com letras engraçadas. Eu realmente queria, pra falar a verdade teve Jamiroquai no caminho que me fez até ir e voltar pra São Paulo com a mesma roupa só pra ver um show deles e voltar pro trabalho no dia seguinte (Rexona 24h + lavadinha esperta no banheiro do aeroporto = fórmula do sucesso), mas me apeguei ao que não aprendi nas aulas de História da mina escola particular. No que a maioria das pessoas preferem não ver e aí fico em constante busca da "formula mágica da paz" mesmo. 
De vez em quando rolava uns momentos de paz, quando eu escutava umas versões vazadas de "mulher elétrica" e o tal do "boogie naipe" que era só rumor atrás de rumor. Pensava que estava ruim de pesquisa e enquanto isso eu ia descobrindo uma penca de outros rappers, inclusive de Brasília! 
"1000 trutas e mil tretas" até ver o Morgan caminhando da praia do Flamengo até a porta de casa, sem camisa e com Racionais no talo em sua caixinha de som, até escutar o Mini cantando Negro Drama no Opala preto e balançando a cabeça e curtindo a onda.
Hoje eu sei que se até "Jesus chorou" então não vai ser eu que vai meter bronca no show que eu esperei a vida toda pra ir: Racionais em São Paulo. O show que sempre sonhei em ir, que eu ficava ilustrando na minha mente enquanto escutava as versões ao vivo. Chegou a hora! E ainda vai ser inédito pra mim. O último show da turnê de TRINTA ANOS. Com banda e as porra! Meu primeiro show em São Paulo já vai ser um show comemorativo. Assim que soube comprei sozinho e vou curtir sozinho esse arregaço. Vai ser como antigamente, como se estivesse no meu banquinho escutando  "eu tô ouvindo alguém me chamar". Mãe? 

Comentários

  1. Lembra da aula pra concurso naquela tenda? Acho que até tiramos uma foto! Parabéns pela coragem de sempre!

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    1. Aquela tenda cheia de formiga voadora numa noite de sei lá que dia!!!!

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  2. Dona Celia só queria te proteger dos puliça quando você estivesse andando no Pantera, pode ter certeza <3

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