Encerrando ciclos

Mentira, tem nada encerrado. Coloquei esse título só porque acho muito chique quando falam isso. "Ah porque agora nessa nova fase pipipipópópó".
Mas então, nesse meu novo momento no mapa astral sinto que está chegando a hora de deixar algumas coisas pra trás. Como os amigos de "bom dia/boa tarde" que fiz no ônibus da linha 503.3 na ida e volta do percurso casa/trabalho. Muitas sacudidas, bolsas e mochilas na cara quando chegava a curva, aquele forró que todo mundo dançava involuntariamente... Ficamos tão próximos que respirávamos até o mesmo ar nos dias de chuva, já que nosso coletivo é raiz e não faz uso de ar condicionado. Era só a gente ali, um mundo do nosso. Ninguém nos via lá dentro porque os vidros estavam embaçados, tínhamos nosso próprio environment - joga no tradutor porque to sem saco pra explicar hoje - e nesse calor humano todo mundo virou um. Se alguém pega um resfriado então nos solidarizamos e ficamos na mesma situação. Se alguém fica com a cara fechada porque a passagem aumentou então todo mundo reclama. Não com o cobrador, porque ele é nosso brodi e deixa a gente ficar parado na roleta e apoiar a mochila  quando tá muito cheio. Falando no cobrador, ontem mesmo eu quase Visi pra cada de Uber porque fui descobrir que só tinha uma nota de 100 na parada de ônibus. Entrei todo jururu e fingi que era de dois, mas ele percebeu antes de eu “me tocar” que era 100 e começou a falar alto (bom, não sei se ele tava meio que gritando pra todas as pessoas acharem que eu tava de secagem ou e se nem tava gritando mesmo, tamanha vergonha a minha) “que isso, cara! Tá arregado hoje!! Tu vai meter 100zão mesmo?”. Fiquei ainda mais sem graça e tentei devolver a piada falando que era pra ele conferir antes porque nem eu tava acreditando que tinha aquilo tudo na minha carteira. Aí ele ficou meio sério e ficou conferindo a nota até a outra parada! Chegou mais gente e eu lá entalado na roleta. Aí disse que ia quebrar meu galho e aceitar a nota. Agradeci por ainda estar aceitando dinheiro e  depois que me deu o troco mandou um “essa era a última, né?”. 
Mal sabia que não só era a última com também dia a última vez que nos veríamos, já que o brodi que tá pintando meu carrinho disse que ontem tava pronto e hoje me entregaria. Muito triste não ter mais aquele colinho de uma pessoa desconhecida. Não poder mais falar “oi, baratinha!”. É triste saber que não vou mais gastar só R$5,50 naquele transporte maravilhoso em que me sentia uma pessoa tão importante para a Viação Piracicabana, que me acolhia e me entregava o melhor que podiam. Saber que estou no mesmo ônibus que usava em 2004, na época do ensino médio. Mentira, antes ele era azul calcinha. Hoje é uma cor nova e tem menos lugar pra sentar. É muito triste, mas a vida tem que seguir. E assim deixo na memória todos os momentos de união que vivenciei ali. Fui embora hoje sem dizer adeus, pra evitar lágrimas, mas podem ter certeza que meu coração está mais partido que o PSL.

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